sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Desconstruindo Harry


Desconstruindo Harry
Título Original: Deconstructing Harry
Gênero: Comédia
Ano: 1997
Sinopse: Harry Block (Woody Allen) é um escritor que irrita a todos ao seu redor escrevendo sobre suas vidas em seus livros. Embora seja um escritor de sucesso, ele vive uma vida decadente em meio a problemas financeiros, relacionamentos mal sucedidos, bebidas, remédios, crises existenciais, bloqueio criativo e demônios interiores.
Por que vale a pena assistir?
Esse filme segue o estilo que Woody Allen criou em "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" e usou em outros grandes clássicos de sua carreira, como "Manhattan" e "Hannah e Suas Irmãs". Aquela coisa do judeu ateu franzino sofrendo com as neuroses do mundo moderno, vivendo os absurdos do amor e as dores da busca pela felicidade. Aquela coisa de diálogos rápidos e sagazes repletos de tiradas geniais e referências ao universo de interesses do cineasta. Tudo isso está presente em Desconstruindo Harry de uma forma que as pessoas que não admiram Woody Allen se referem como "mais do mesmo", mas que nós, seus admiradores, nos referimos como "mais daquilo que amamos e não nos cansamos de ver".
No entanto, em Desconstruindo Harry, essa fórmula nos é entregue de uma forma mais nua e crua, despida da usual classe com a qual ele veste seus filmes. Harry é um personagem não apenas decadente, mas alcoólatra, viciado em remédios controlados e com um impulso incontrolável por transar com prostitutas. Até palavrões, raros na filmografia do Woody Allen, aqui são ouvidos aos montes, inclusive aos berros em discussões vulgares. A fotografia e os planos são bem feitos, como sempre, mas a edição traz cortes repetidos ou fora de ordem de forma non sense, quase esquizofrênicos.
Se você não gosta do Woody Allen, não é esse filme que vai te fazer mudar de ideia. Mas, se você adora ele, talvez esse filme te faça adorar ainda mais por trazer um Woody Allen mais "punk". Eu recomendo Desconstruindo Harry tanto para quem nunca assistiu nenhum quanto para quem já assistiu a quase todos.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

[Off topic] Sniper Americano: Estamos jogando filmes e assistindo games?


Meus filmes de guerra preferidos são Platoon e Nascido Para Matar, ambos da década de 80. E ambos feitos de uma forma de se fazer filmes de guerra que mudou no século XXI, especialmente após o sucesso de Guerra ao Terror e as aclamadas sequências de ação de Supremacia Bourne e Ultimato Bourne. Assistindo "Sniper Americano" eu senti, em alguns momentos, a mesma sensação que eu sentia quando estava no quarto do meu primo vendo ele jogar Call of Duty. E essa sensação não foi inédita nem é rara: Cada vez mais se faz filmes que parecem games e games que parecem filmes.

Nos games, conforme o hardware se tornou avançado o bastante para alcançar gráficos próximos à realidade, narrativas cinematográficas passaram a ser cada vez mais utilizadas e hoje se tornou um gênero. E um dos gêneros que mais vendem. Basta ver The Last of Us, o jogo mais bem sucedido dos últimos tempos em críticas, vendas... Em tudo! Sua narrativa é extremamente cinematográfica. É praticamente um filme interativo.

No cinema inúmeros filmes, geralmente os blockbusters de ação, se parecem games. A computação gráfica utilizada em Avatar produziu um filme que é como se James Cameron estivesse jogando video game usando a tela do cinema como TV. Há diversos casos (vide filmes de heróis) onde o roteiro é praticamente dividido em fases, como os jogos, e é possível até mesmo identificar os chefões e o "zeramento" após a luta contra o último chefe.

Jogos que parecem filmes estão entre os que mais vendem, assim como os filmes que parecem jogos estão entre as maiores bilheterias. No entanto, podem me chamar de atrasadão, conservador, reacionário e caretão, mas eu prefiro jogar games e assistir filmes do que jogar filmes e assistir games.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Velvet Goldmine


Velvet Goldmine
Título Original: Velvet Goldmine
Gênero: Drama/musical
Ano: 1998
Diretor: Todd Raynes
Sinopse: Em 1971, o Glam Rock invade o mundo da música britânica, provocando uma verdadeira revolução, não apenas na música mas também nos costumes da sociedade. O ícone do movimento é Brian Slade (Jonathan Rhys-Meyers), roqueiro que leva garotas e rapazes a pintarem as unhas, usarem batom e explorarem sua sexualidade mas que, incapaz de lidar com a fama adquirida, forja sua própria morte e desaparece. 10 Anos mais tarde, um jornalista inglês (Christian Bale) é encarregado de investigar seu desaparecimento.
Por que vale a pena assistir?
Velvet Goldmine é o título de uma música da fase anos Glam Rock do David Bowie e é daí que o filme tira sua espinha dorsal. O longa usa fragmentos da história real da era Glam e a carreira do camaleão do rock para, a partir daí, construir sua narrativa. Para quem curte esse cenário musical é um deleite pescar referências e pensar "Aquele personagem ali é o Iggy Pop! A capa do disco daquele personagem é baseada na capa de tal disco! Aquele é o Brian Eno! Esse show foi inspirado no show de tal banda! Aquele personagem é o Andy Warhol!"

O roteiro é muito bem escrito, fazendo muito bem não apenas o papel de explicar aos espectadores o que foi aquele período cultural como também criando personagens que vão muito além de serem meros pastiches de suas contra partes no mundo real. O desenvolvimento deles e a forma como se relacionam funciona muito bem, mesmo nos momentos em que são propositalmente vagos para deixar para o espectador tirar suas conclusões.

A montagem é perfeita, misturando o presente com fragmentos não lineares de diversos pontos do passado e mesmo assim passando ao espectador as informações certas no momento certo, criando mistério e suspense. E isso sem escorregar em cascas de banana como confusão, perda de ritmo e anti climax.

E as atuações se destacam MUITO! Christian Bale está excelente tanto na fase adulta do personagem, sempre cabisbaixo e melancólico, quanto na fase juvenil, jovial e ingênuo. Jonathan Rhys-Meyers navega com muita eficiência em todas as nuances da trajetória de ascensão e queda do paraíso ao inferno que o protagonista passa. No entanto o grande destaque é a atuação avassaladora de Ewan McCregor nas cenas musicais incorporando anarquia desvairada, imprevisibilidade e selvageria de Iggy Pop.

Velvet Goldmine é um filme muito bem feito e muito bem conduzido pelo diretor que o tempo todo demonstra que sabe exatamente o que quer. É obrigatório tanto para quem curte bons filmes quanto para quem curte esse cenário musical. Só não é recomendado para quem não tolera sexo (nem sempre heterossexual), drogas e rock 'n roll. Afinal, esse filme é pura BOWIEolagem!